Não há como negar que uma onda de nostalgia tomou conta das produções de cinema, com o retorno de franquias que fizeram sucesso no passado, o resgate de vários personagens que continuam na memória do povo ou até mesmo ressuscitando filmes que nem fizeram tanto sucesso assim, mas que merecem uma segunda chance porque têm apelo comercial. É o caso do Pica-Pau, a irritante e divertida ave criada por Walter Lantz em 1940, que acaba de estrear seu segundo longa-metragem em live-action, Pica-Pau – As Férias no Acampamento (Woody Woodpecker Goes to Camp, 2024), no canal streaming Netflix.

“Uma vez não foi suficiente? Tem que me fazer passar vergonha de novo?”

O primeiro filme com atores foi lançado em 2017 e foi um verdadeiro fracasso, faturando apenas US$ 15 milhões mundialmente, contra um orçamento de US$ 10 milhões. Mesmo assim, algum executivo  da Universal achou que o personagem valia um segundo filme, desta vez com o Pica-Pau dividindo espaço com seus indefectíveis amigos (ou nem tanto) Zeca Urubu e Leôncio. A irriquieta ave apronta mil confusões ajudando um grupo de adolescentes fracassados em uma competição entre acampamentos rivais.

“Não adianta se fazer de morto! Está expulso do parque!”

O filme já começa em 220v, com o Pica-Pau (dublado por Eric Bauza), expulsando daquele jeito que só ele é capaz, um grupo de campistas que adentram a floresta onde ele mora para filmar para as redes sociais e prometendo tirar o seu sossego. No entanto, os métodos pouco ortodoxos do piciforme (descobri recentemente que ele não é um pássaro) incomodam o guarda florestal (Patrick Williams) que acaba banindo o Pica-Pau daquela região até que ele aprenda o significado de trabalhar em equipe.

Rixa de família atravessa gerações.

Assim, ele vai parar no Acampamento Woo-Hoo bem no momento em que este se prepara para as olimpíadas contra o acampamento Woo-Rah, que nada mais é do que o mesmo acampamento, dividido em dois por uma antiga rixa familiar. Decidido a manter a tradição de nunca perder a olimpíada, Zane (Josh Lawson) desafia sua prima Angie (Mary-Louise Parker), que, além de se preocupar com as provas, ainda precisa cumprir os requisitos de segurança necessários para que o fiscal – ninguém menos que Leôncio (voz de Tom Kenny) não tire dela o controle administrativo.

Zeca Urubu estreia em live-action.

Ao mesmo tempo, Zeca Urubu (Kevin Michael Richardson), fugitivo da prisão, descobre que há um tesouro escondido no acampamento e está decidido a conquistá-lo para um chefe misterioso, disfarçando-se de cozinheiro do Woo-Rah e ajudando Zane a vencer a olimpíada enquanto procura o tesouro. O Pica-Pau faz amizade com Maggie (Chloe de Los Santos), a filha de Angie, e ajuda a motivar seus amigos a usar suas habilidades pessoais para vencer a olimpíada. Mas a tarefa não é tão fácil, porque, embora habilidosos, os garotos são patéticos.

Voar no extintor é apenas uma das confusões que o Pica-Pau faz.

O filme segue a fórmula de outros live-actions de personagens animados, onde os antropomórficos interagem com humanos como se fosse algo natural – vimos isso em Zé Colmeia, Os Smurfs e Scooby-Doo -, mas o roteiro não deixa muito espaço para que estes brilhem como nos desenhos animados, tornado-os meros coadjuvantes dos personagens humanos. Assim, o Pica-Pau se limita a uma sequência de piadas pastelão – com direito a guerra de comida com torta na cara – e traquinagens que lhe são características: comer pimenta e cuspir fogo, voar em extintor de incêndio e, claro, bicar madeira em alta velocidade.

Conflito mãe e filha é superficial e mal explorado.

O espevitado pássar… ou melhor… piciforme nem mesmo colabora para motivar os jovens desanimados do Woo-Hoo, papel que cabe a Maggie, a única sem habilidades para as provas. As atuações são tão ruins que a mãe de Maggie proíbe a filha de interagir com o Pica-Pau, mas ele vai ficando no acampamento como se nada tivesse acontecido – e não se trata da tradicional desobediência da ave, os diálogos é que são ruins mesmo, mal escritos e “jogados” no ar, na tentativa de fazer alguma graça. Nem o chefe misterioso do Zeca Urubu proporcional alguma supresa, sendo um segredo sem nenhuma função.

“Jugue la bola para el papá, Júnior!”

No fim, claro, tudo se resolve, Zeca Urubu se dá mal e o Pica-Pau ganha novos amigos, além de conseguir voltar para casa com o certificado de trabalho em equipe (mesmo que, efetivamente, ele não tenha feito nada). Como filme infantil, talvez Pica-Pau – As Férias no Acampamento funcione, mesmo com as piadas politicamente incorretas. Como entretenimento, porém, o filme deixa a desejar, servindo apenas para lançar versões em CGI do Leôncio e Zeca Urubu. Um orçamento bastante alto para entregar apenas isso.

Pica-Pau – As Férias no Acampamento
100 minutos
Elenco: Eric Bauza, Mary-Louise Parker, Josh Lawson, Chloe de Los Santos, Patrick Williams, Kershawn Theodore, Savannah La Rain, Evan Stanhope, George Holahan-Cantwell, Esther Son, CC Dewar, Kevin Michael Richardson e Tom Kenny.
Direção: Jonathan A. Rosenbaum

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