O acesso à vacinação contra COVID-19 tem permitido que, aos poucos, se volte à normalidade, com as estreias de filmes retornando às salas de cinema (muito embora o público tenha se acostumado ao streaming e alguns estúdios tenham aderido à nova tecnologia, disponibilizando suas produções também nos canais virtuais). Não é o caso de O Esquadrão Suicida (The Suicide Squad, 2021), que chegou exclusivamente nos cinemas desde o dia 5 de agosto.

Amanda Waller é a Poderosa Chefona que lidera o Esquadrão.

É o segundo filme da equipe de criminosos que atuam como agentes especiais do Governo Americano, representado pela poderosa Amanda Waller (Viola Davis), em missões que requerem, além de habilidades especiais dos envolvidos, a possibilidade de usar agentes descartáveis que, em caso de morte, não façam qualquer diferença. Como diferencial entre esta produção e a anterior, lançada em 2016, apenas o artigo “O” no título.

O primeiro ES: tão ruim que o elenco quase inteiro foi trocado.

Se o estúdio não teve criatividade nem para bolar um título decente, que dirá uma boa produção. O primeiro filme já não foi lá essas coisas e o fato de ter vindo na sequência do malfadado Batman Vs. Superman – A Origem da Justiça (2016) só piorou a percepção, visto que público e crítica colocavam suas esperanças na equipe de desajustados para recuperar a honra do Universo Cinematográfico da DC no cinema, mas teve um resultado bem aquém do esperado.

Equipe disfuncional

Para tentar salvar a franquia, contrataram ninguém menos do que o diretor James Gunn, responsável pela divertida franquia dos Guardiões da Galáxia, cujos dois longas-metragens (2015 e 2017) foram muito bem sucedidos. Gunn, claro, fez um trabalho primoroso: infiltrado da Marvel, conseguiu destruir a equipe da DC, com uma trama ilógica, cheia de diálogos ridículos, piadas que não funcionam em momento algum, violência exagerada, uma edição bagunçada e, para ganhar uns pontos de audiência, nudez masculina gratuita.

Heróis que vêm caminhando das laterais e se juntam no centro. Quer cena mais clichê?

O filme começa com a equipe formada por Rick Flag (Joel Kinnaman), Arlequina (Margot Robbie), Capitão Bumerangue (Jai Courtney), Sábio (Michael Rooker), O.C.D. (Nathan Fillion), Doninha (Sean Gunn), Blackguard (Pete Davidson), Mongal (Mayling Ng) e Dardo (Flula Borg) realizando uma missão em Corto Maltese, servindo de distração para que outra equipe menor invadisse a ilha pelo lado oposto.

Equipe principal. Faltou o Tubarão-Rei.

Esta equipe, liderada pelo Sanguinário (Idris Elba), inclui o Pacificador (John Cena), Caça-Ratos 2 (Daniela Melchior) – assim mesmo, com o número 2, já que o 1 era o pai dela -, Bolinha (David Dastmalchian) e Tubarão-Rei (Sylvester Stallone). O objetivo era capturar o cientista Pensador (Peter Capaldi) e, com o auxílio dele, entrar e destruir a torre onde funcionava o Projeto Estrela do Mar, uma operação científica que explorava uma estranha estrela do mar descoberta no espaço por astronautas.

Primeira aparição da Liga da Justiça com o alien Starro.

Fãs de quadrinhos já sabem que se trata de Starro, o Conquistador, o alienígena que reuniu Aquaman, Flash, Mulher-Maravilha, Caçador de Marte e Lanterna Verde, dando origem à Liga da Justiça, na clássica HQ The Brave and The Bold 28 (1960). Porém, vamos guardar a referência para mais tarde, porque ainda tem chão até que a criatura seja devidamente apresentada ao público.

Dois filmes em um: Arlequina tem uma trama paralela.

Com as baixas na frente de batalha, Rick Flag é capturado, o que modifica a missão do grupo principal, que deve invadir uma aldeia para resgatar o líder. Em paralelo, Arlequina é dada como morta, mas também é capturada pelo líder militar de Corto Maltese e usada para revelar detalhes da missão americana na ilha. Com isso, a insana personagem meio que tem uma história à parte, numa estratégia para lhe dar mais destaque na trama e explorar o  seu apelo junto ao público.

Cena da batalha final. Que demora pra acontecer.

Com Flag resgatado, o Esquadrão descobre que Arlequina estava viva e também vão salvá-la, para só depois retornar à missão principal, invadir a Torre e, no processo, criar uma ameaça muito maior ao libertar Starro (agora sim!), no clímax da história. Nem vou mencionar o plot twist que tem nesse meio tempo, para não revelar spoilers. Em resumo: Gunn nos apresenta uma bagunça generalizada na falta de uma trama consistente, jogando na tela um monte de momentos desconexos, cenas de ação com cabeças explodindo ou cortadas ao meio e sequências absurdas que ofendem a inteligência de qualquer pessoa com ensino fundamental completo.

Pessoa sendo mastigada pelo Tubarão-Rei é uma das cenas mais leves.

Um exemplo rápido? Uma queda de um prédio altíssimo, onde o personagem cai em pé, andar por andar, até que, “coincidentemente”, para no momento exato para salvar uma pessoa em perigo. Quedas, aliás, são constantes, mas obviamente, ninguém se machuca, por maior que seja a altura ou a quantidade de destroços que lhe caia em cima. Ridículo é pouco!

Será que ainda dá pra voltar pra Asgard?

Para fechar com chave de ouro, vale mencionar a química zero entre os personagens. A impressão que dá é que, a exemplo dos criminosos que interpretavam, os atores também foram forçados a trabalharem juntos e, por isso, estavam ali para cumprir contrato. Alguns podem dizer que foi proposital, justamente para mostrar a desconexão entre os criminosos, mas o constrangimento é nítido.

Não tem sentido: em cena de matança, Arlequina solta flores… pela traseira?

Os melhores momentos são protagonizados pela Arlequina, que roubava as cenas cada vez que aparecia, garantindo alguma diversão. Mesmo assim, são instantes raros para um filme infinito, que parece ter bem mais do que suas 2h12min. Com uma trama arrastada que não engata em momento algum, a gente torce para o filme acabar antes de chegar a metade. E ainda tem uma longa jornada pela frente.

Sebastian é o melhor personagem do filme.

Com tudo isso, dá pra entender porque Will Smith pulou fora da continuação e foi substituído pelo genérico, que tem exatamente as mesmas habilidades. Mesma sorte não teve Sylvester Stallone, que entrou nessa barca furada interpretando o burro Tubarão-Rei, personagem que até tentou ser engraçadinho, mas não conseguiu. O mesmo não se pode dizer do ratinho Sebastian, que é, de longe, o melhor personagem do filme.

Esta cena representa o nível intelectual do filme.

Em O Esquadrão Suicida, James Gunn até tentou repetir o sucesso dos Guardiões da Galáxia, mas se esqueceu de um pequeno ingrediente na receita, que fez toda diferença: personagens com alma. No fim das contas, quem tem que se preocupar para não virar suicida depois de ver o filme são os espectadores. Mas que dá vontade, dá! Mas num filme que tem Karol Conká na trilha sonora não dá mesmo pra exigir muita coisa.

O Esquadrão Suicida (132 minutos)
Elenco: Margot Robbie, Idris Elba, Viola Davis, Joel Kinnaman, John Cena, Sylvester Stallone, Daniela Melchior, David Dastmalchian, Jai Courtney, Michael Rooker, Nathan Fillion, Sean Gunn, Pete Davidson, Mayling Ng e Flula Borg.
Estúdio: Warner Bros.

2 comentários em “Opinião: O Esquadrão Suicida

  1. Queria entender se a técnica de luta da Arlequinal (ótima coreografia por sinal) se ela aprendeu como parte da grade no curso de psicologia ou se vem grátis no processo de loucura???

    Ou é apenas roteirismo mesmo?!

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